segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Moradores e comerciantes começam a deixar imóveis desapropriados pelo Metrô

A maioria dos proprietários e inquilinos de imóveis localizados nas áreas onde serão construídas as futuras estações Orfanato e Água Rasa já saíram de suas residências e comércios, após serem notificados sobre a desapropriação dos terrenos pela Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô. Os que permanecem nos locais, ainda não foram intimados a entregar o terreno. Em ambos os casos, muitos não concordam com o valor oferecido, que acreditam ser bastante inferior ao preço real de mercado, e entraram na Justiça para questionar a quantia das indenizações.


Por outro lado, o Governo do Estado, que ainda não definiu uma data para o processo licitatório, afirma que as obras de extensão da Linha 2 – Verde na região começam até o final deste ano.  

Para a construção da estação Orfanato, o Metrô determinou a desapropriação de uma área de 5.650 m² que abrange o lado ímpar da rua Doutor Sanareli, no quarteirão entre as ruas Cananéia e do Orfanato. A reportagem conversou com moradores que ainda permanecem em suas residências e prometem brigar por uma indenização maior. “Por enquanto ainda não recebi um prazo para deixar a minha casa e não sei o que fazer quando for intimada a sair. Já estou com processo na Justiça, pois me ofereceram apenas R$ 63 mil, sendo que um avalista acionado pelo meu advogado alega que o imóvel vale mais de R$ 300 mil. Enquanto não receber um valor justo, não tenho como ir embora. Hoje com menos de R$ 150 não é possível comprar uma casa nem no extremo da zona leste de São Paulo. Com os R$ 63 mil dá apenas para adquirir um carro”, declarou a autônoma Sandra Glorete, moradora da rua Doutor Sanareli há mais de 15 anos.

Já na rua do Orfanato, mesmo quem está deixando a residência, afirma que irá lutar por uma indenização mais justa, como é o caso da aposentada Mercedes Cai, residente da via há mais de 45 anos. “Me deram um prazo para sair até 25 de setembro, mas vou embora ainda neste mês. Com a ajuda dos meus filhos consegui outro lugar para morar na região, porque se dependesse apenas da oferta do Metrô não conseguiria nada. Meu imóvel tem 208 m² e queriam pagar pouco mais de R$ 200 mil. Acionei a Justiça e duplicaram a oferta, mas, mesmo assim, está abaixo do valor do mercado. Já sofri bastante com essa história, perdi peso e fiquei noites sem dormir, afinal o valor sentimental do lugar onde vivi boa parte da minha vida não tem preço. Por isso estou indo embora, mas continuarei brigando pelo que é justo”, declarou.

Na região onde será construída a estação Água Rasa o cenário é de abandono. Nos cerca de 16 mil m² entre as ruas São Maximiano, Gopiara, Caxiuma e parte da avenida Adutora do Rio Claro a maioria das residências e comércios está fechada e vazia. Quem permanece no local afirma que sairá em breve. “Ainda não recebi um prazo, mas tive que correr atrás e me agilizar. Estou transferindo a loja para o outro lado da avenida e assim que terminar a mudança fecho as portas neste imóvel. Sei que teria direito a uma indenização por conta do ponto comercial, mas, além de demorar muitos anos para receber algum valor, a briga é com ‘cachorro grande’, o Metrô. O que mais quero é seguir a vida e correr atrás do dinheiro através do meu trabalho”, afirmou o comerciante de peças automotivas, Robson Sampaio.

A situação também atrapalha inquilinos de imóveis residenciais. Eles não são contemplados com indenizações e precisam deixar as casas. “Moro no local há mais de cinco anos e, mesmo sem vencer o contrato, terei que sair. Foi muito difícil encontrar outro lugar na redondeza com valor acessível. Sou aposentado e moro com minha esposa e, por causa do anúncio da obra do Metrô, os preços na região aumentaram. Sou um dos únicos que ainda permanecem por aqui e a sensação é de que vivo em uma área fantasma”, contou o morador da avenida Adutora do Rio Claro, Carlos Silva.

Licitação

Apesar da versão oficial do Metrô e do Governo do Estado ainda ser de que os trabalhos da primeira etapa da extensão da Linha 2 – Verde começam neste ano, a licitação para o projeto executivo e das obras civil e via permanente ainda não saiu do papel. O primeiro prazo previsto para o envio das propostas para o trecho era maio, entretanto, alegando pouco tempo para os consórcios concorrentes analisarem os serviços necessários, o Metrô prorrogou a licitação para junho, que também foi cancelada. Questionada nesta semana, a assessoria de imprensa da Companhia do Metropolitano informou que ainda não há data prevista para a realização do processo licitatório.

A extensão da Linha 2 – Verde ligará a Vila Prudente à Via Dutra, na divisa com a cidade de Guarulhos. O novo trecho será construído de forma subterrânea, com 15,5 quilômetros de extensão, atendendo 13 estações e cerca de um milhão de passageiros por dia, segundo o Metrô. O custo estimado da obra é de R$ 10,1 bilhões.

Por: Gerson Rodrigues e Rafael Gonçalo

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