Jovem teve o celular roubado dentro de uma composição e, ao procurar suporte da companhia, descobriu que “isso acontece com frequência” e que os ladrões sabem “onde tem câmera e onde não tem”
Além da já habitual superlotação e das constantes falhas no sistema, o usuário do Metrô em São Paulo tem que lidar com mais um problema: a falta de segurança nas estações e até mesmo dentro das composições. Esse problema foi enfrentado por uma usuária que teve o celular furtado dentro do vagão. Ela procurou ajuda da companhia mas esbarrou no descaso e na falta de preparo da equipe para solucionar o caso e contou o ocorrido ao SPressoSP.
Na noite do último dia 21, uma segunda-feira, uma usuária (que preferiu não ter seu nome identificado) embarcou na estação Anhangabaú, da Linha 3 – Vermelha, com destino à estação Penha, bairro onde mora. Quando estava na estação Bresser/Mooca, da mesma linha, um indivíduo entrou no vagão, empurrou sua mão e tomou seu celular antes da porta automática fechar e fugiu pela plataforma. Ela estava sentada no assento preferencial, que fica bem ao lado da porta de embarque e desembarque.
A primeira reação da usuária roubada foi a de acionar o dispositivo de segurança da composição. O condutor, entretanto, não deu qualquer tipo de retorno e, então, ela desceu na estação Penha para procurar ajuda dos funcionários. Como o primeiro que abordou no controle de informações não sabia a orientar, a usuária foi para casa, que fica próximo a estação, para bloquear seu chip e seu aparelho enquanto aguardava os seguranças. Pouco tempo depois ela retornou à estação para conversar com os funcionários.
“O segurança me disse que a única coisa que ele podia me dizer é que sentia muito pelo ocorrido, me ofereceu água e disse que o Metrô vem trabalhando para coibir esses incidentes. Eu insisti que estava em um vagão com câmaras de segurança interna, do por que de ninguém ter barrado o delinquente na plataforma, porque não havia seguranças na plataforma e ele me disse que se eu quisesse as imagens teria que ir até a Delegacia do Metrô, porque ele não podia fazer nada para me ajudar”, contou a mulher. O segurança teria dito ainda que “isso tem ocorrido com frequência, que são vendedores ambulantes que conhecem o sistema e que sabem em qual estação tem segurança e qual não tem”.
Por orientação daqueles próprios funcionários, a usuária decidiu, então, ir até a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), que fica na estação Palmeiras-Barra Funda, para registrar um Boletim de Ocorrência. A mulher conta que, ao chegar na delegacia, estabeleceu-se o seguinte diálogo, segundo a usuária:
Usuária – Quero registrar um boletim de ocorrência. Fui assaltada na estação Bresser do metrô.
Funcionário – Ih, coitada. Eu até faria isso pra você. Mas eu acabei de prender três indivíduos em flagrante roubando celulares. Aliás, vê se não foi um desses filhos da puta que te roubou.
Usuária – Não, não foi nenhum deles.
Funcionário – Bom, se a senhora quiser fazer o BO, vai demorar. Tenho que fazer os registros deles primeiro. A senhora vai sair daqui depois das 2h da manhã. A senhora veio de carro?
Usuária – Não, vim de metrô.
Funcionário – Ih, então é melhor a senhora não esperar. Vai fechar o metrô e a senhora ainda estará aqui.
Usuária – Não tem problema. Vou esperar.
Funcionário – Então pode sentar aí, na mesma sala que os rapazes.
Depois de ficar esperando, passar seus dados e relatar o ocorrido por mais de uma vez, a mulher disse que não se contentaria somente com o B.O e foi quando um funcionário a orientou a deixar uma reclamação em uma das caixinhas que ficam nas estações.
Durante a espera na mesma sala que os três suspeitos de terem praticado furto no Metrô, a usuária disse que ouviu deles uma série de informações que mostram o tamanho do problema de segurança na companhia. Segundo ela, os três eram chilenos e disseram que ganham em média R$2 mil por dia assaltando usuários. “Ganha-se muito dinheiro no Brasil. Eu roubo e mando o dinheiro para a minha família no Chile”, teria afirmado um deles. Eles teriam dito ainda que boa parte das câmeras não funcionam, que são “para inglês ver”, e que, na maior parte dos casos, ficam presos por no máximo dois dias e depois são soltos.
No final das contas, depois de todo o tempo de espera, o sistema para registrar o B.O. caiu e não tinha previsão para voltar. “Faz pela internet. É mais rápido”, teria orientado um dos funcionários. A mulher, então, teve que voltar para casa depois das 23h40 e registrar a ocorrência online. Ela pensa agora em abrir um processo contra o Metrô pelo descaso em relação à sua situação.
A companhia, por sua vez, informou que não faltam seguranças em seu efetivo, que possui mais de três mil câmeras ao longo das estações e composições e que ofereceram a possibilidade de registrar a ocorrência do furto do celular à usuária na própria estação Penha. Confira, na íntegra, a nota enviada pelo Metrô.
Para garantir e ampliar a segurança nos trens e estações, o Metrô promove diversas ações estratégicas. Para executá-las, a Companhia tem mais de 1.300 agentes, que atuam uniformizados ou à paisana, e mais de 3 mil câmeras distribuídas ao longo de 5 linhas, nos trens e em 65 estações. O Metrô também mantém estreita parceria com órgãos de Segurança Pública do Estado (Polícias Civil e Militar) e conta com uma delegacia especializada nas ocorrências do sistema metroferroviário. A colaboração dos passageiros também é importante, por isso a Companhia trabalha continuamente com campanhas de cidadania e de alerta aos usuários, com a afixação de cartazes e veiculação de mensagens sonoras em trens e estações. Os usuários também colaboram com a segurança do sistema, denunciando eventuais irregularidades pelo serviço de SMS-Denúncia do Metrô (97333-2252). A mensagem é recebida em uma central de monitoramento, que destaca os agentes de segurança mais próximos ao local da denúncia para verificação e providências. O serviço SMS-Denúncia tem por objetivo prover segurança a todos os passageiros, sejam eles homens ou mulheres, idosos, adultos ou crianças. O registro de ocorrências de segurança pública tem se mantido estável nos últimos anos. Em 2012 e 2013 foram registradas 1 ocorrência por grupo de 1 milhão de passageiros transportados. Esse índice está abaixo dos padrões internacionais estipulado para metrôs, que é de 1,5 ocorrência por grupo de 1 milhão de passageiros transportados.
Vale destacar que os agentes de segurança na estação Penha, na noite de 21 de julho, ofereceram a possibilidade do registro da ocorrência de um alegado furto de telefone celular à usuária, que dispensou o atendimento afirmando que faria o registro da ocorrência posteriormente.
Fonte: SPRESSOSP - http://www.spressosp.com.br/2014/07/29/furto-metro-eles-conhecem-o-sistema-diz-funcionario/
Por: Ivan Longo
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